Que delícia pegar a estrada, sentada confortavelmente no meu assento, começando a ler um livro que logo na segunda página sei que vai mexer muito comigo.
Que delícia ele ter chegado a mim por acaso, e eu o reconheci, eu o quis pra mim.
Que delícia escolher algumas linhas, também ao acaso, e escreve-las aqui... pra quem quiser lê-las.
Que delícia ler sonetos de Vinicius de Moraes.
Soneto à Lua
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, que és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tão pouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
Vinicius de Moraes.
Rio, 1938.
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